O Espírito nos dá variedades de línguas para exaltarmos suas grandezas e conhecermos as profundezas espirituais que não cabem em palavras humanas.


Leia antes: Dons de Revelação: 3. Palavra da Sabedoria


Os Dons de Locução

Hoje iniciamos os dons de locução pelo dom de variedade de línguas, na sequência estudaremos o dom de interpretação das línguas e o dom da profecia.

“a outro a variedade de línguas” 1 Co. 12:10

Os dons de locução foram dados primeiramente para a edificação pessoal e da igreja coletivamente, em seguida para a consolação e exortação (mais propriamente com a profecia, geralmente aliada à interpretação – visto que os mistérios de Deus consolam e exortam a igreja).

Quem é batizado com o Espírito Santo tem automaticamente o dom de “variedade” de línguas?

Em primeiro momento é necessário diferenciarmos os dons de locução do batismo no Espírito Santo.

Quem é batizado no Espírito Santo pode ter os dons de locução, ou pode não ter, não necessariamente andam juntos.

O que não pode é alguém não ser batizado com o Espírito Santo dizer que possui esses dons, visto que não há qualquer evidência de manifestação de dom genuíno sem o batismo com Espírito Santo (a não ser na hipótese de milagre – Nm 22:28-35; ou atuação de demônios – 2 Rs. 17:17, 1 Sm. 28:7, Jr 14:14, Atos 16:16).

A evidência inicial do falar em línguas no batismo com o Espírito Santo não é o dom de variedade de línguas.

Conforme ensinou o Pr. Antônio Gilberto:

A variedade de línguas (v. 10). É um dom de expressão plural, como indica o seu título. É um milagre lingüístico sobrenatural. Nem todos os crentes batizados com o Espírito Santo recebem este dom (I Co 12.30). Já as línguas como evidência física inicial do batismo, todos ao serem batizados no Espírito Santo as falam. (Teologia Sistemática Pentecostal, CPAD, p. 198)

A evidência inicial das línguas é uma distinção física da percepção de que o revestimento de poder é o mesmo recebido pelos discípulos e apóstolos no dia de pentecostes (Atos 2).

Todas as vezes que há batismo com o Espírito Santo no novo testamento a evidência vem acompanhada do falar em línguas (At. 10:44-46, At. 19:6), que podem ser conhecidas (línguas de homens), ou desconhecidas (línguas espirituais – ou de anjos, como disse Paulo). (1 Cor. 13:1)

O erro da Igreja de Corinto ao usar os dons de variedades de Línguas

O apóstolo Paulo investiu muito tempo para doutrinar a Igreja de Corinto acerca da responsabilidade e temor na utilização dos dons de locução, este é o principal tema dos capítulos 12 e 14 de 1 Coríntios.

Porém, o erro cometido pelos irmãos de Corinto não era o “falar em línguas”, mas o “excesso” no uso dos dons durante o culto ao ponto de atrapalhar a racionalidade do que estava ocorrendo no culto.

Estavam sem conhecimento acerca do bom uso que deveriam fazer dos dons (1 Co 12.1).

O apóstolo incentivou o uso dos dons de locução, principalmente as línguas estranhas (1 Co. 14.5). E deu ainda a fórmula de um culto completo na presença de Deus, que todo crente pentecostal verdadeiro gosta de participar e chegar em casa com o espírito satisfeito (1 Co 14.26) (Salmo, doutrina, relevação, língua, interpretação – faça-se tudo para edificação).

Não podemos ficar com medo de fazer o uso dos dons de locução porque em alguns lugares há o abuso e uso incorreto desses dons.

Cuidado para não cairmos no Montanismo pelo exagero e no Cessacionismo pelo preconceito do uso dos dons espirituais.

Os excessos, as profetadas e outros maus usos, não representam o verdadeiro pentecostalismo bíblico, e esses maus comportamentos não podem ser generalizados.

Por isso é importante entendermos a função de cada um dos dons de locução, para utilizarmos de maneira espiritual e racional, de modo a edificarmos a igreja e atrairmos aqueles que se maravilham das coisas de Deus no meio de um culto abençoado e com liberdade no Espírito.

O que é o dom de variedade de línguas?

Em primeiro lugar, como já dissemos, não é o batismo com o Espírito Santo, mas um dom específico dado pelo Espírito Santo para a edificação da igreja.

Juntamente com o dom da interpretação, foram dados pelo Espírito Santo a partir do Pentecostes, por isso não há manifestações no Antigo Testamento (exceto a confusão de línguas em Babel).

Segundo Brunelli:

“Variedade de línguas sugere uma multiplicidade linguística, assim como no caso de curas e de milagres: são dons que vêm no plural. No ato do batismo com o Espírito Santo, as línguas, como sinal da evidência, servem também para a edificação do próprio indivíduo, enquanto as línguas, em forma de dom espiritual, carregam consigo uma mensagem de edificação para toda a igreja, se houver quem as interprete” (pp. 289)

A palavra “variedade”, ou “gêneros” em grego, evidencia a multiplicidade de fontes dessas línguas, de posse do Espírito Santo (Atos 2. 4). Esses gêneros ou variedades podem significar:

  • Línguas estranhas (espirituais – glossolalia) – (1 Co. 14.2)
  • Línguas de homens (faladas na terra – xenolalia) – (At 2.6)

Essas categorias estão não só implícitas na doutrina de Paulo acerca dos dons espirituais, como implícita antes do seu cântico de exaltação à virtude cardeal do amor (1 Co 13.1) – “Ainda que eu falasse a ‘língua dos homens’ e dos ‘anjos’“, ou seja, ainda que falasse “línguas faladas na terra” ou “línguas espirituais” – daí a variedade.

Vale lembrar que quem opera a manifestação (concede as línguas humanas ou espirituais) é o Espírito Santo (Gn 11:7-9, At. 2:4).

Sejam estranhas (glossolalia), sejam humanas (xenolalia), é o Espírito que concede para o fim de cumprir os propósitos do evangelho e da edificação espiritual da igreja.

Manifestação do dom de variedade de línguas na Igreja

O dom de variedade de línguas é expresso em “palavras de edificação para a igreja, ou, às vezes para uma pessoa que está passando por grande sofrimento, e a palavra vem como consolo do Espírito. Pode ser o anúncio de um acontecimento bom ou mesmo ruim” (Brunelli, pp. 290)

Por vezes aquele que recebeu este dom espiritual acaba preferindo orar em línguas do que orar em palavras humanas, visto que é levado em uma dimensão espiritual maior, ainda que às vezes não entenda o que diz, é o que Paulo ensina em 1 Co. 14.14.

Paulo mantém o ensino de que orar em espírito é maravilhoso, mas não podemos desprezar a razão, deve haver sempre equilíbrio (1 Co. 14.15).

A oração em espírito nos fortalece em momentos de sofrimento, pois o Espírito intercede por nós quando não temos palavras (Rm 8.26,27).

É necessário que aquele que possui o dom de variedade de línguas saiba que o que não tem esse dom também precisa ser edificado, e prefira sempre que possível palavras que possam ser entendidas (1 Co 14.16,17).

Segundo o Pr. Antônio Gilberto:

As mensagens em línguas mediante este dom devem ser interpretadas para que a igreja receba edificação (I Co 14.5,27). O crente portador deste dom, ao falar em línguas perante a congregação, não havendo intérprete por Deus suscitado, deve este crente falar somente “consigo e com Deus” (I Co 14.4,28), isto é, falar em silêncio.” (Teologia Sistemática Pentecostal, CPAD, p. 198)

Paulo não era contra o falar em línguas, visto que afirmou que falava mais línguas do que todos os irmãos daquela Igreja (1 Co 14.18) e determinou como apóstolo que não ousassem proibir o falar em línguas (1 Co 14.39), visto que esse comportamento poderia trazer um esfriamento espiritual e essa não era a intenção da doutrina dos dons (1 Ts 5:19).

Ainda, mesmo que aqueles que não são do convívio da Igreja não entenda, por vezes é bom que eles não entendam e fiquem curiosos sobre as maravilhas espirituais, e busquem conhecer o Espírito Santo, é o que ensina o apóstolo (1 Co 14.22-24).

Conclusão

As línguas constituem, evidentemente, um sinal do sobrenatural, responsabilizando ainda mais o descrente a crer e a render-se.

Esse dom é dispensado a todos igualmente e podem falar: “eu quero que todos vós faleis línguas estranhas (…)” (1 Co. 14.5).


Leia em seguida: Dons de Locução: 2. Interpretação das Línguas