O dom do discernimento de espíritos é a visão transcendente de Deus na vida do crente para fins de proteção e ordem espiritual da Igreja contra espíritos enganadores


Leia antes: Dons Espirituais: atualidade, necessidade e utilidade dos dons do Espírito Santo


Os nove dons do Espírito e sua classificação didática

Conforme salientamos no capítulo introdutório, abordaremos os dons do Espírito de natureza predominantemente sobrenatural, que são aqueles presentes no capítulo 12 da carta aos Coríntios. Isto porque eles pertencem a uma categoria exclusiva que demanda uma ação direta do Espírito Santo, independentemente da contribuição humana, embora se utilize do ser humano para expressá-los.

Os nove dons do Espírito Santo conforme os versículos 8 a 10 do capítulo 12 de Coríntios são apresentados na seguinte ordem: palavra da sabedoria; palavra da ciência (conhecimento); fé; dons de curar; operação de maravilhas; profecia; discernimento de espíritos; variedade de línguas e interpretação de línguas.

Contudo, para serem melhor compreendidos há uma opção didática por categorizá-los em três ordens em que cada um deles se encaixe: dons de revelação, dons de locução e dons de poder.

Os dons de revelação são: discernimento de espíritos, palavra de sabedoria e palavra de conhecimento (ciência).

Os dons de locução são: variedade de línguas, interpretação de línguas e profecia.

Os dons de poder são: operação de milagres (maravilhas), dons de curar e dom da fé.

A imagem abaixo facilita a compreensão dessas categorias de dons:

Iniciaremos a aprofundar o nosso estudo nos dons de revelação. Não seguiremos, necessariamente, a ordem do texto. Apresentaremos, por análise, os dons na medida dos que estão mais em falta na Igreja Pentecostal contemporânea, conforme a experiência.

“Uma igreja completa nos dons, amadurecida na doutrina e experiente na fé é, sem dúvida, uma Igreja ideal, segundo o padrão do Novo Testamento; esse padrão é possível à medida que os crentes estão centrados na Palavra e não se distraem com coisas secundárias (Walter Brunelli, pp. 261)

O que é o dom de discernir espíritos?

O dom de “discernir espíritos” apesar de estar em terceiro lugar na ordem dos dons de revelação, entendo que seja um dos dons mais necessários para que a Igreja atualmente esteja saudável e caminhando em um só entendimento, com a mente de Cristo.

Há variedades de “espíritos”, conforme o texto, com letra minúscula, sendo, em primeiro lugar, espíritos dos homens que estão contaminados com sentimentos e objetivos que não são de Deus, mas não necessariamente são demoníacos, pois advém da natureza pecaminosa, dada a contaminação do homem pela queda – o conhecimento do bem e do mal trouxe a malícia ao coração dos homens.

Portanto, espíritos de maldade, de engano, de corrupção, de fraude, de prostituição, de avareza, podem advir de espíritos malignos ou da natureza espiritual corrompida dos próprios homens.

Mas também existe a influência de demônios (espíritos malignos), que querem se utilizar de pessoas, de aparência das coisas que são de Deus, a fim de enganar a igreja e os crentes, para desviarem do caminho correto (Mt 24.24). Os prodígios profetizados por Jesus, são falsos dons de poder realizados por espíritos malignos, sendo necessário que a igreja possa discernir o que é de Deus e o que é demoníaco.

“Esse dom tem como finalidade proteger a Igreja do Senhor de misturas e confusões por espíritos enganadores e também por homens de espírito mau, que querem tirar proveito do povo de Deus” (ibidem, op. cit.)

No antigo testamento era mais difícil discernir (diferenciar) o que era a influência maligna e o que era a natureza espiritual pecaminosa do homens. Apenas há no antigo testamento 3 (três) versículos que expressamente usam a palavra “demônio” (Lv 17.7; 2 Cr 11.15; Sl 106.37), todos porém empregados no contexto do alvo da idolatria, ou seja, a quem os idólatras estavam sacrificando (aos demônios).

O antigo testamento, quando fala de influências malignas sobre homens, se utiliza mais do termo “espírito mal”, ou “espíritos” que tinham em si alguma influência maligna, como em 1 Rs 22.19-23. Temos mais textos que falam sobre os “espíritos malignos” desta maneira (Jz 9.23; 1 Sm 16.14-16,23; 18:10, 19.9).

De todo e qualquer modo, todos os espíritos sejam de ordem terrena (coração do homem), sejam de ordem espiritual (espíritos malignos), todos são autorizados por Deus para agir segundo os propósitos divinos (vontade permissiva e até mesmo diretiva de DEus). (cf. 1 Rs 22.19-23)

Já no novo testamento, a partir do ministério terreno do Senhor Jesus, a atividade demoníaca se tornou melhor identificável e definida. Pois o Espírito Santo estava sobre Ele, de modo que o tamanho poder que havia no Senhor Jesus fazia com que eles se manifestassem em temor (Mt 8.28-29).

Já os espíritos da natureza pecaminosa do homem ficaram mais definidos a partir dos ensinos do Apóstolo Paulo (Rm 1.18-19,24-26), descortinando que a natureza pecaminosa também traz más influências no seio da igreja (1 Co 6.8-10), e os homens serão julgados segundo a mácula espiritual que carregaram (Ap 21.8).

O dom do discernimento de espíritos, portanto, é um dom de revelação, pois o Senhor desperta a sua Igreja contra o relaxamento espiritual, de modo a não dar brechas para a intromissão de espíritos que levam a Igreja ao esfriamento e até mesmo à sua divisão interna e por fim lançam os homens no inferno.

Alguns exemplos bíblicos do discernimento de espíritos

Jesus discernia espíritos malignos que surgiam no seu caminho. E também tinha grande percepção para o espírito dos homens, sobretudo quando vinham com perguntas maliciosas, a fim de o apanhá-lo em contradições (Jo 2.25).

O apóstolo Paulo discerniu o espírito maligno que estava na adivinhadora de Filipos, ainda que estivesse exercendo um tom bajulador e lisonjeiro, percebeu que aquilo não vinha de Deus (At 16.17-18)

O apóstolo Percebeu o espírito mentiroso de Ananias e Safira, quando fingiram uma falsa generosidade para apresentar ofertas diante dos apóstolos, e foram expostos pelo Espírito Santo (At 5.3-5,8-10).

Há também situações em que a intenção humana precisa ser discernida para que homens, de espírito mau, não causem danos à obra de Deus. Um exemplo disso é Simão (chamado “o mago”), em Samaria (At 8.20-23).

O discernimento de espíritos também foi ensinado como uma necessidade para a igreja saber identificar os verdadeiros e os falsos irmãos e mestres como já ensinado por Jesus (Mt 24.24), os ensinos do apóstolo Paulo deixam ainda mais claros os ensinos de Jesus neste aspecto (Ef 4.14, 1 Tm 4.1,2).

O discernimento dos espíritos é uma poderosa arma que a Igreja do Senhor deve usar em sua defesa contra as astutas ciladas do diabo.

Aprendendo a buscar o dom do discernimento de espíritos

Em I Coríntios 14, como veremos nas próximas semanas, Paulo instrui os crentes a buscarem especialmente o dom da profecia, que tem a ver com a edificação, consolação e exortação da igreja. O dom do discernimento de espíritos está intimamente ligado ao dom da profecia, na medida em que ajuda a igreja a discernir a verdade de Deus e a se proteger contra falsas profecias.

Portanto, antes mesmo de haver o dom da profecia na igreja é importante que haja o dom do discernimento de espíritos, para que se saiba se vem de Deus o que se está se falando ou é espírito de engano que quer colocar desordem na igreja.

Por causa de muitas profecias mentirosas homens, mulheres e ministérios foram arruinados ao passar dos anos (2 Cr. 18:18-27). Isso porque faltou-lhes discernimento para diferenciar o que vêm de Deus, do inimigo ou do próprio homem com seus caprichos e interesses escusos.

Em resumo, para buscar o dom do discernimento de espíritos, os crentes devem ter um coração cheio de amor e um desejo sincero de edificar a igreja. Eles devem pedir a Deus esse dom em oração, com fé que Ele dará conforme Sua vontade e para Sua glória.

Os crentes também devem estudar a Palavra de Deus diligentemente e buscar o conselho de líderes espirituais maduros, a fim de aprimorar sua habilidade de discernir entre a verdade de Deus e as mentiras do inimigo.


Leia em seguida: Dons de Revelação: 2. Palavra do Conhecimento


Conclusão

Em resumo, o dom do discernimento de espíritos é um instrumento crucial para a saúde e unidade da Igreja. Ao discernir corretamente entre espíritos malignos, a natureza pecaminosa humana e a verdadeira influência do Espírito Santo, a Igreja pode se proteger contra enganos e influências maliciosas. Este dom ajuda a Igreja a manter seus membros focados na verdade de Deus e a evitar serem desviados por falsas doutrinas ou intenções maliciosas. É, portanto, essencial para todos os crentes buscarem e cultivarem este dom, a fim de contribuir para a pureza e unidade do corpo de Cristo.